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O processo do processo

quinta-feira, março 12th, 2009

A idéia de ter um site atrelado ao projeto me pareceu natural desde que comentei sobre essa possibilidade na primeira reunião com o pessoal do Festival. E, dentro dele, ter esse blog é algo que foi me agradando aos poucos. Ora, se uma das idéias principais do projeto é explorar um processo aberto de realização, nada mais condizente do que ter esse processo relatado de alguma forma e também de forma aberta.

É claro que esses relatos tocam no resguardo da vaidade. Não só a do “artista”, de quem não se espera dúvida nem vacilo ao completar o seu projeto, mas também a de todos os outros envolvidos no projeto. Tornar visível as mudanças de curso, as reprogramações, os problemas encontrados, os erros e acertos, as dúvidas, as discussões e o que mais possa surgir nesse caminho é uma ameaça à concepção de que há uma figura imponente, certeira, clara e até genial motivando todo o projeto e levando-o a cabo com punho forte, “o artista”. Essa ameaça me interessa.

A intenção com o blog é, antes de tudo, abrir ainda mais o processo de desenvolvimento do projeto. Tornar mais claro o que e como se passa essa fase antes de que as coisas realmente aconteçam (a exposição), ou seja, mostrar que muita coisa já vai acontecendo muito antes da exposição abrir, muita coisa ainda por definir e muita coisa a se modificar. Vamos a elas.

Nota de rodapé: este blog roda o WordPress e o tema é uma versão modificada do “White as Milk“.

Texto do catálogo

quinta-feira, março 12th, 2009

Recebi hoje o texto que “vai para o catálogo geral (com informações sobre todas as atrações) que será distribuído somente na noite de abertura do festival”. Ele foi escrito por um redator a partir do projeto inicial que foi mandado para o Festival.

Além do que se refere ao “One & Three Words”, os outros projetos todos estão descritos no arquivo que me foi enviado (e não só os da área de Artes Visuais); o que permitiu que eu conhecesse melhor (e de antemão) o que vai estar sendo exposto nas galerias “vizinhas”.

A parte sobre “One & Three Words” começa com uma suscinta história do Art & Language que o coloca no passado e ligado à produção de desenhos, colagens e cartazes. Eu preferiria mencionar que o grupo ainda existe e também que trabalha com outros formatos como instalação e, não surpreendentemente, com o texto como suporte de seus trabalhos. Mas isso é história, ficção.

A explicação sobre o funcionamento da idéia em torno dos falsos cognatos, o Google Tradutor e como eles são articulados em trípticos me parece muito mais clara e simples do que eu me lembre jamais ter sido capaz de dar.

Finalmente, a descrição da (e o enfoque na) instalação no espaço da galeria divergem um pouco da idéia de rever as propostas de obras como as do Art & Language, principalmente pela inclusão superficial de todo o processo que acontece nas unidades da Cultura Inglesa. É compreensível que assim seja, dado o pouco espaço a que, imagino, se reserva a cada um desses textos; mesmo assim acho que, na necessidade de um enfoque maior ao que é mais interessante no projeto, eu o concederia ao que deve acontecer fora da galeria.

Enfim, esse texto deverá ser revisto sob essa luz.

Emoldurações

quinta-feira, março 12th, 2009

Como o projeto prevê a instalação de 180 pequenos quadros nas unidades da Cultura Inglesa, precisarei encontrar um serviço de emolduração que seja capaz de efetuar esse serviço sem cobrar o “preço de shopping center”, que seja eficiente e também faça entrega e, de preferência, a instalação dos quadros.

Segundo o Guia Mais, São Paulo tem 111 moldureiros, espalhados por todas as regiões da cidade. A princípio achei que o ideal seria ligar para alguns, mas logo vi que cada ligação demorava muito tempo, desde ter que explicar o projeto minimamente (quantidade de quadros, localização das unidades, tipo do conteúdo, etc.), detalhar como seriam os quadros (tamanho, tipo da moldura, etc.) e depois pedir desconto e informações adicionais (por exemplo sobre pagamento, entrega e instalação).

A saída foi utilizar o e-mail, mais precisamente o serviço de mensagens do Guia Mais, quando existisse. Depois de ter escrito a mensagem:

Olá,

gostaria de um orçamento de moldura pra fotos no tamanho 20×20 cm com uma moldura preta e reta (bem simples), sem passe par tout e com vidro anti-reflexo. São 180 fotos, por isso gostaria de saber se é possível fazer algum desconto.

Quanto tempo demoraria para terminar todas as emoldurações? Existe a possibilidade de entrega e/ou colocação dos quadros (em mais de um lugar)?

Obrigado

tive que copiá-la e selecionar um por um os contatos do Guia Mais e só então colar a mensagem e enviar a cada um.

Além do Guia Mais, também usei as tradicionais “listas amarelas” impressas, que indicam alguns outros prestadores do serviço e os sites, que eu usei para descobrir o endereço de email. Colecionei uns tantos emails dessa forma e mandei a mensagem para eles também. Acontece que os sites não são nem os mais práticos nem muito intuitivos, então a tarefa acabou demorando mais do que o planejado.

No fim, somando os três métodos, consegui contatar quase 50 moldureiros. Agora é esperar o retorno.

O princípio das dúvidas

terça-feira, março 10th, 2009

Voltei ao CBB, dessa vez para um encontro com a coordenadora pedagógica da Cultura Inglesa, Lizika Goldchleger. Como das outras vezes, tanto a Carolina Faria quanto o Laerte Martin de Mello estavam presentes (na realidade o encontro foi agendado através deles). O objetivo era explicar à Lizika quais são as idéias do projeto e como ele pretende envolver os professores da Cultura Inglesa através de atividades em sala da aula com os alunos.

Comecei mostrando o projeto original enviado ao Festival e explicando que o regulamento do Festival requer um projeto que tenha alguma relação com a cultura inglesa, seja pela obra de um artista específico ou algum traço dela (e como isso acontece no caso de “One & Three Words”, que, além de lidar com a língua inglesa, referencia o grupo Art & Language).

Para facilitar a contextualização de “One & Three Words” acabei dando um panorama histórico bastante resumido do que seria aquilo que se chama de arte “Conceitual”: a relação que existe entre esse termo e obras baseadas em palavras; como essas obras surgiram, entre outras coisas, como uma tentativa de expandir os limites do que se costuma chamar de arte Moderna (que lida essencialmente com a busca de prazeres estético e da “arte pela arte”); a crítica que receberam por isso e como todo esse trajeto histórico vem sendo, de alguma forma, redesenhado. O exemplo que usei para ilustrar o que falava, que é certamente o mais icônico e também bastante útil para focar nas características que interessam a “One & Three Words” é, obviamente, “One and Three Chairs“, da série Proto-Investigations do Joseph Kosuth. O ponto principal que comentei foi o próprio posicionamento do Kosuth e sua filiação com correntes de pensamento positivistas e a concepção ideal de arte, através da obra de arte “analítica”, que se assemelha muito a “arte pela arte”. Enfim, algo bastante resumido mesmo.

Dentro desse panorama trouxe algumas considerações sobre a própria Cultura Inglesa, onde estudei durante seis anos. Desde aquela época e, não surpreendentemente, até hoje a escola se preocupa bastante com prover um ensino baseado no uso de ferramentas tecnológicas (computador, internet, video, som, etc.), como atesta o folder que havia encontrado minutos antes na sala de espera do CBB — na internet, um recurso bastante promovido nesse sentido é o e-campus.

É nesse contexto que surge a importância de utilizar um serviço do Google, o Google Tradutor, como base da pesquisa do projeto. Isto é, nada mais adequado que a Cultura Inglesa, escola de ensino de inglês que tem forte ligação com esse tipo de ferramentas, ser o palco de uma abordagem crítica delas.

Por meio de alguns exemplos de trípticos, levantei um ponto que me interessa pensar que é o fato de, no trabalho original do Kosuth, os verbetes de dicionário serem apresentados descontextualizados, isto é, sem que saibamos de qual dicionário vieram, como se aquela definição fosse algo perene. É por isso que a minha escolha, ao contrário do Kosuth, é por usar fotos de verbetes de dicionário, e fotos que deixem mais clara a existência de um contexto para cada verbete, ou seja, através das características do dicionário de onde ele foi retirado como a tipografia, o papel e outras indicações, esclarecer que os verbetes não existem fora de dicionários específicos, escritos para fins específicos, por pessoas específicas e assim por diante.

Seguindo adiante, expliquei também como há outros contextos que me interessa explorar. Ou seja, que o dicionário é apenas um “nível” de contexto e para a proposta do Festival há outros níveis. Um outro deles seria a intenção de colocar os trípticos nas unidades da Cultura Inglesa.

Além dessa ‘intervenção’, a proposta inicial para o espaço expositivo também gera um outro contexto, no qual o visitante da exposição é convidado a transcorrer o processo de produção dos trípticos, mas com a liberdade de fazer uma exploração que possa levá-lo a outros lugares também, diferentes da proposta inicial. A intenção não é estabelecer uma regra de conduta dentro da qual o público deva atuar, mas sim uma estrutura bastante geral motivada por dúvidas geradas no contato com qualquer parte da obra. O objetivo é extrapolar o fato de que é o público quem faz o trabalho, quem faz as escolhas e decisões de como fazer o trabalho (e também deixar claro que houve alguém, eu, que fez as escolhas e decisões daquelas partes do trabalho que estão expostas).

Foi nesse momento que surgiu uma importante dúvida da Lizika, que é muito interessante até para se pensar o papel reservado ao artista e à produção artística; na realidade ela se surpreendeu com essa abertura da proposta e perguntou o que aconteceria então caso o visitante não chegasse à mesma conclusão que eu teria chegado, algo que minaria a proposta do trabalho, fazendo-o perder o seu sentido. Expliquei a ela que a idéia não é propor uma conclusão, uma afirmação ou um conteúdo, mas sim uma estrutura de pensamento, de consciência de contexto, uma tentativa de conscientização ativa do público. Levantar uma dúvida e uma estrutura sobre a qual possa ser possível montar pensamentos, mesmo que eles sejam diferentes do que eu tive quando realizei o projeto. Sendo assim, não me interessa que o visitante chegue nas mesmas conclusões que eu, nem me interessa ilustrar as minhas conclusões de maneira que o visitante possa acessá-las. O ponto principal é permitir ao visitante criar o seu conteúdo, criar a obra para si mesmo.

É por isso também que, para as atividades junto aos professores, não me interessa impor a eles quais ações especificas cada um deles deve desenvolver. Essa foi a segunda dúvida da Lizika, que se preocupou com como orientar ou assegurar o professor de que ele estaria trabalhando dentro da proposta do trabalho. A resposta mais simples é que isso não será possível nem buscado. Cada professor será livre para desenvolver a sua própria atividade, por meio do contato com os trípticos nas unidades e também do encontro previsto no projeto inicial. Como um visitante, o professor também terá a abertura para criar a sua própria proposta, seja ela diretamente alinhada ou não com o sentido do projeto. O resultado dessa ação não pode ser previsto de antemão, assim como não podem ser previstas de antemão as reações do público em geral. E, como o Laerte notou, é através dessa possibilidade de abertura que surge uma contraposição ao tipo de proposta fechada realizada pelo Kosuth (por exemplo).

Mais ainda, dada a maneira como se desenvolve o projeto, expliquei a ela que a realização dessas atividades não implica no sucesso da proposta e, em contrapartida, mesmo que nenhuma atividade seja realizada o projeto não terá “fracassado”, já que essa duas possibilidades guardam interesse e não são objetivos a priori. Por exemplo, caso nenhuma atividade ocorra com os alunos pode ser interessante, entre outras coisas, tentar entender o porquê de nenhuma atividade ter sido gerada. Ou seja, o processo de tentativa, que é o que mais importa no projeto, terá ocorrido e ele poderá ser explorado em qualquer caso. E, a própria Lizika adicionou, só o encontro com os professores pode ser visto como uma alimentação cultural importante para a sua prática, independente do fato de ele repassar isso para o aluno ou não.

Comentei também sobre o “terceiro” espaço do projeto, o site. Além de utilizar a galeria do CBB e as escolas da Cultura Inglesa, qualquer resultado desse processo pode interagir e voltar ao espaço do site, seja na forma de relatos, imagens, textos ou qualquer outro formato que venha a ser gerado.

Expliquei também que havia marcado esse encontro não só para explicar a ela o projeto e a maneira como pensava fazê-lo funcionar, mas também para pedir uma ementa dos cursos da cultura, que pode ajudar a pensar algumas possibilidades de atividades. Terminamos com uma definição de próximos passos dada pelo Laerte: pensar como será a maneira ideal de estabelecer o contato inicial com os professores e depois passar a definir datas.

oneandthreewords.org

sábado, março 7th, 2009

Registrei o domínio “oneandthreewords.org” para abrigar a página do projeto. Infelizmente não é possível registrar o “&”, por isso, aqui, o projeto terá a grafia “One and Three Words”, diferente da apresentada no projeto original e outros lugares (“One & Three Words”).

Por enquanto o site permanece vazio, mas já vou pensando como ocupá-lo.